sábado, 13 de novembro de 2010

AXÉ ou - o samba do sol distante - Djalma Filho


AXÉ
(Djalma Filho)

ou - o samba do sol distante -

feliz, feliz mesmo assim,
perde a dó de mim
inda sei sambar
[pois]
todo sol aceso é um sol feliz,
é um sol de carnaval

não fui eu quem morri,
só nem estou aí:
tenho ainda muita, muita lenha pra queimar
[sim]
guardo um abadá dentro de mim
pra quando eu chegar
[pois]
quem não tem raiz
morre infeliz, sem saber sambar

feliz, feliz mesmo assim
não tem dó de mim
longe, o chorar
[fui]
fui até ali,
mas não parti
[sei]
e como eu sei do meu lugar

pois,
não te sei há tanto,
mas te amo, de há muitos carnavais!...




Mensagem do poeta Djalma Filho quando soube da morte de Ildázio Tavares



Amigos,
desculpem a minha falta de atenção para com todos, mas, hoje, eu não responderei os mails...
pois, hoje, o Brasil e a Bahia, principalmente, vão beber um poeta....
Morreu um poeta!...

[no blogue do Gil Vicente, seu filho, tem um artigo muito bem humorado com o título: "Meu pai subiu no telhado"]

Mas poetas não morrem, é impossível - principalmente se este poeta for baiano!...

[- Posso puxar a brasa para a minha sardinha?!]

Eis que ontem, exatamente enquanto eu formatava e enviava para vocês aquele poema sobre o último instante de vida, exatamente - e só aí - quando imaginei Deus um pouco mais na intimidade, em Salvador-Bahia, se escondia o poeta Ildázio Tavares!...

Poeta de versos nem tão simples nem tão complexos - completos!...
um poeta que estranhamente nasceu contista...
grapiúna,
foi e voltou,
e foi recebido pelos braços da cidade de São Salvador - que o acolheu e o fez doutor.
Homem do povo, do candomblé, de belas mulheres...
um poeta cuja a própria mãe lhe dizia:
- Vai ser outra coisa meu filho!... - E Ildázio insistiu poeta!...

Hoje, agorinha, ele deve estar ficando mais escondidinho ainda.
"Adeus, namorada, que encabulada pediu licença e partiu
Adeus [ai, adeus] madrugada, que encabulada padiu licença e partiu..."

Atô tô, Ildázio!...



ACTIO FRUCTUS - Ildáziio Tavares


ACTIO FRUCTUS
(Ildázio Tavares)

Para Tereza Tenório

O que importa a um poema é escrevê-lo -
publicá-lo é perdê-lo - permitir
que os imbecis o pastem, qual pérolas
ruminadas por suínos; ou que os ignorantes
críticos dos jornais detratem-no, mesmo quando
falam bem dele. E que os da Universidade torturem-no,
cozendo-o no tempero insosso da estupidez
cientifica, proferindo asneiras de muito maior
credibilidade. Quando escrevo um
poema , apenas o escrevo, sem cogitar
se vai ser bom ou se vai agradar a alguém.
Acaso o abacateiro preocupa-se com a
qualidade dos seus frutos, uns mais doces,
outros menos, uns maduros, outros não? Se
eu for poeta, darei poesia como o abacateiro
dá abacates. Se algum dia, atraído por meus
frutos, alguém quiser deles provar, que faça
bom proveito - goste ou não goste, a árvore
continuará a produzi-los, casca, polpa, e o
caroço que até se pode plantar - e sempre haverá
goiabas, tangerinas, cajás, umbus, maçãs e as
difíceis nectarinas, para quem goste do sabor
delas. O abacateiro continuara a dar abacates
e eu meus versos, sem jamais nos preocuparmos
com o destino que terão. Todavia, se meus poemas
forem publicados, não quero estar por perto para
vê-los maltratados pelos olhos dos porcos a
mastigar minhas pérolas, frutos que nasceram
De mim, sem que eu sequer quisesse.