terça-feira, 28 de setembro de 2010

domingo, 19 de setembro de 2010

D Canô - 103 anos


                E já que estamos falando de Bahia, a cidade de Santo Amaro parou na manhã desta quinta-feira (16/09/2010) para celebrar os 103 anos de sua filha mais ilustre. Às 9h30 da manhã, os sinos da Igreja de Nossa Senhora da Purificação dobraram para anunciar a chegada de Dona Canô. Ao lado dos seis filhos, entre eles Caetano Veloso e Maria Bethânia, dos netos e bisnetos, a matriarca da família Veloso entrou na Igreja ao som da música "Canto de um povo de um lugar", de Caetano, interpretada por um coral formado por crianças da comunidade. Vejam com ela está muito bem, obrigado nessa foto de Uran Rodrigues.





DEFINE A SUA CIDADE - Gregório de Mattos


DEFINE A SUA CIDADE
(Gregório de Matos)

De dois ff se compõe
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder.

Recopilou-se o direito,
e quem o recopilou
com dous ff o explicou
por estar feito, e bem feito:
por bem digesto, e colheito
só com dous ff o expõe,
e assim quem os olhos põe
no trato, que aqui se encerra,
há de dizer que esta terra
de dous ff se compõe.

Se de dous ff composta
está a nossa Bahia,
errada a ortografia,
a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta
e quero um tostão perder,
que isso a há de perverter,
se o furtar e o foder bem
não são os ff que tem
esta cidade ao meu ver.

Provo a conjetura já,
prontamente como um brinco:
Bahia tem letras cinco
que são B-A-H-I-A:
logo ninguém me dirá
que dous ff chega a ter,
pois nenhum contém sequer,
salvo se em boa verdade
são os ff da cidade
um furtar, outro foder.




domingo, 12 de setembro de 2010

O VAPOR DE CACHOEIRA NÃO NAVEGA MAIS NO MAR (Djalma Filho)


O VAPOR DE CACHOEIRA NÃO NAVEGA MAIS NO MAR
(Djalma Filho)
                   
                urina de ratos
                    - a escorrer -
            por entre as pedras portuguesas

        [redondas quais cabeças de frade]


            - Sorria, você está na Bahia!
           
[o mosteiro de São Francisco é logo ali]

                            onde,
                    por entre pedras portuguesas,
                        escorre urina de ratos
                        - incessantemente

[o mosteiro de São Francisco é logo ali]
   
                            onde,
                        todas as terças-feiras,
            quentinho, sai o pão que o diabo amassou
                            e,
                            onde,
na nave da igreja, só fica a quem Deus já esconjurou
               
                    [Ogunhê!]

            - Sorria, você está na Bahia!

[o mosteiro de São Francisco é logo ali]

                            onde,
                        perto, bem perto,
                                dizem
                    do negro liberto,
                        do filho de escravo,
                            do branco sem paz
                                que,
                no colo de Oxalá, preto virou

                    [Atôtô!]

            - Sorria, você está na Bahia!

                            onde,
tudo é belo,
                        todos são belos
                - talqualzinho à Oxum Docô!

[o mosteiro de São Francisco é logo ali]
                                
                            onde,
                    putas moças, putas velhas,
                sobre batentes, sobre esgotos,
                    de peitos de fora,
procuram quem lhes queiram fazer um neném

            - Sorria, você está na Bahia!

[o mosteiro de São Francisco é logo ali]

                            onde
    ainda escorre urina de ratos por entre as pedras portuguesas

                        [olha o afoxé!]

                    Vambora, Bahia -
                qualquer, o seu estado...


Nota do autor: Meses antes de ir para Guaíba, fui ao Pelourinho. Lá, eu vi uma Bahia triste, com suas praças sem artistas e suas ruas entregue aos traficantes, às prostitutas, aos meliantes... Numa situação não muito diferente daquela Bahia de alguns anos atrás, quando se cogitava até na queima dos casarios históricos e ruídos do seu centro... Uma Bahia triste, onde urina de ratos e de homens se misturava e rolava ladeira abaixo, pelas pedras portuguesas. Voltamos à Triste Bahia - quem não ama sua terra, não pode jamais governá-la.
            Guaíba, 12 de setembro de 2010