terça-feira, 28 de setembro de 2010
domingo, 19 de setembro de 2010
D Canô - 103 anos
DEFINE A SUA CIDADE - Gregório de Mattos
DEFINE A SUA CIDADE
(Gregório de Matos)
De dois ff se compõe
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder.
Recopilou-se o direito,
e quem o recopilou
com dous ff o explicou
por estar feito, e bem feito:
por bem digesto, e colheito
só com dous ff o expõe,
e assim quem os olhos põe
no trato, que aqui se encerra,
há de dizer que esta terra
de dous ff se compõe.
Se de dous ff composta
está a nossa Bahia,
errada a ortografia,
a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta
e quero um tostão perder,
que isso a há de perverter,
se o furtar e o foder bem
não são os ff que tem
esta cidade ao meu ver.
Provo a conjetura já,
prontamente como um brinco:
Bahia tem letras cinco
que são B-A-H-I-A:
logo ninguém me dirá
que dous ff chega a ter,
pois nenhum contém sequer,
salvo se em boa verdade
são os ff da cidade
um furtar, outro foder.
(Gregório de Matos)
De dois ff se compõe
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder.
Recopilou-se o direito,
e quem o recopilou
com dous ff o explicou
por estar feito, e bem feito:
por bem digesto, e colheito
só com dous ff o expõe,
e assim quem os olhos põe
no trato, que aqui se encerra,
há de dizer que esta terra
de dous ff se compõe.
Se de dous ff composta
está a nossa Bahia,
errada a ortografia,
a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta
e quero um tostão perder,
que isso a há de perverter,
se o furtar e o foder bem
não são os ff que tem
esta cidade ao meu ver.
Provo a conjetura já,
prontamente como um brinco:
Bahia tem letras cinco
que são B-A-H-I-A:
logo ninguém me dirá
que dous ff chega a ter,
pois nenhum contém sequer,
salvo se em boa verdade
são os ff da cidade
um furtar, outro foder.
domingo, 12 de setembro de 2010
O VAPOR DE CACHOEIRA NÃO NAVEGA MAIS NO MAR (Djalma Filho)
O VAPOR DE CACHOEIRA NÃO NAVEGA MAIS NO MAR
(Djalma Filho)
urina de ratos
- a escorrer -
por entre as pedras portuguesas
[redondas quais cabeças de frade]
- Sorria, você está na Bahia!
[o mosteiro de São Francisco é logo ali]
onde,
por entre pedras portuguesas,
escorre urina de ratos
- incessantemente
[o mosteiro de São Francisco é logo ali]
onde,
todas as terças-feiras,
quentinho, sai o pão que o diabo amassou
e,
onde,
na nave da igreja, só fica a quem Deus já esconjurou
[Ogunhê!]
- Sorria, você está na Bahia!
[o mosteiro de São Francisco é logo ali]
onde,
perto, bem perto,
dizem
do negro liberto,
do filho de escravo,
do branco sem paz
que,
no colo de Oxalá, preto virou
[Atôtô!]
- Sorria, você está na Bahia!
onde,
tudo é belo,
todos são belos
- talqualzinho à Oxum Docô!
[o mosteiro de São Francisco é logo ali]
onde,
putas moças, putas velhas,
sobre batentes, sobre esgotos,
de peitos de fora,
procuram quem lhes queiram fazer um neném
- Sorria, você está na Bahia!
[o mosteiro de São Francisco é logo ali]
onde
ainda escorre urina de ratos por entre as pedras portuguesas
[olha o afoxé!]
Vambora, Bahia -
qualquer, o seu estado...
Nota do autor: Meses antes de ir para Guaíba, fui ao Pelourinho. Lá, eu vi uma Bahia triste, com suas praças sem artistas e suas ruas entregue aos traficantes, às prostitutas, aos meliantes... Numa situação não muito diferente daquela Bahia de alguns anos atrás, quando se cogitava até na queima dos casarios históricos e ruídos do seu centro... Uma Bahia triste, onde urina de ratos e de homens se misturava e rolava ladeira abaixo, pelas pedras portuguesas. Voltamos à Triste Bahia - quem não ama sua terra, não pode jamais governá-la.
Guaíba, 12 de setembro de 2010
(Djalma Filho)
urina de ratos
- a escorrer -
por entre as pedras portuguesas
[redondas quais cabeças de frade]
- Sorria, você está na Bahia!
[o mosteiro de São Francisco é logo ali]
onde,
por entre pedras portuguesas,
escorre urina de ratos
- incessantemente
[o mosteiro de São Francisco é logo ali]
onde,
todas as terças-feiras,
quentinho, sai o pão que o diabo amassou
e,
onde,
na nave da igreja, só fica a quem Deus já esconjurou
[Ogunhê!]
- Sorria, você está na Bahia!
[o mosteiro de São Francisco é logo ali]
onde,
perto, bem perto,
dizem
do negro liberto,
do filho de escravo,
do branco sem paz
que,
no colo de Oxalá, preto virou
[Atôtô!]
- Sorria, você está na Bahia!
onde,
tudo é belo,
todos são belos
- talqualzinho à Oxum Docô!
[o mosteiro de São Francisco é logo ali]
onde,
putas moças, putas velhas,
sobre batentes, sobre esgotos,
de peitos de fora,
procuram quem lhes queiram fazer um neném
- Sorria, você está na Bahia!
[o mosteiro de São Francisco é logo ali]
onde
ainda escorre urina de ratos por entre as pedras portuguesas
[olha o afoxé!]
Vambora, Bahia -
qualquer, o seu estado...
Nota do autor: Meses antes de ir para Guaíba, fui ao Pelourinho. Lá, eu vi uma Bahia triste, com suas praças sem artistas e suas ruas entregue aos traficantes, às prostitutas, aos meliantes... Numa situação não muito diferente daquela Bahia de alguns anos atrás, quando se cogitava até na queima dos casarios históricos e ruídos do seu centro... Uma Bahia triste, onde urina de ratos e de homens se misturava e rolava ladeira abaixo, pelas pedras portuguesas. Voltamos à Triste Bahia - quem não ama sua terra, não pode jamais governá-la.
Guaíba, 12 de setembro de 2010
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