segunda-feira, 12 de julho de 2010

A CONDIÇÃO HUMANA - João Augusto Sampaio


A condição humana
(João Augusto Sampaio)

(Orientação para leitura, mental ou em voz alta. Cada verso "- É um poeta" deverá ser lido com um dos seguintes sentimentos, independentemente de ordem: ódio, desdém, inveja, menosprezo, mal-querer, descaso, desprezo, arrogância, ironia, menoscabo, vingança. Todos os demais versos, exceto o último, deverão ser lidos em um mesmo tom, grave e tranqüilo. O último verso deverá ser lido em tom muito alto e resoluto, encerrando-se a leitura do poema com um forte soco na mesa!)

- É um poeta...
Elogiam, quando intentam ofender, os tolos.

- É um poeta...
Ponta de inveja, uma indireta.

- É um poeta...
Tomam-te por pateta.

- É um poeta...
Como incomoda, desacomoda, esse esteta!

- É um poeta...
Contestador, não é escultor, pintor, cineasta.

- É um poeta...
O pobre ri da riqueza estulta.

- É um poeta...
"Quantas 'divisões' tem o" poeta?

- É um poeta...
Desarmado, a quem afeta?

- É um poeta...
Terror dos tiranos, amor e carne do povo.

- É um poeta...
Multiplicador de pães, à turba alimenta.

- É um poeta...
Luz-dos-que-deveriam-ter-sido.

- É um poeta...
Como Dali, poeta, molemente dobras o tempo e os relógios.

- É um poeta...
Cento e cinqüenta anos depois te adotam nas escolas.

- É um poeta...
Cento e cinqüenta anos depois suscitas outro poeta,
filho do que dizia "É um poeta..."

Virá o Grande Dia em que todos serão poetas.
Enfim gritarão

É UM POETA!







Um comentário:

  1. Não esmurrei a mesa. Sorri. Dizem que não devemos contrariar os poetas pois, afinal, são poetas. Mas eu ousei fazê-lo porque sou atrevida e sou poeta! Todo poeta é atrevido, Dieu merci!__Beijos, Kathleen

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